Qual a melhor maneira de ajudar um Sem abrigo?

21 de maio de 2010

Coincidências


É inútil negar a ironia da vida. Quando menos se espera, esse bicho, que é a vida, espeta-nos uma facada nas costas sem sequer darmos por ela até nos virarmos para trás.

Pergunto-me se foi coincidência o facto de estar, eu e colegas de grupo, a percorrer ruas e ruas a fio questionando pessoas sobre a vida de um sem-abrigo e calhar-me, precisamente a mim, uma pessoa perfeitamente normal, vestida para um dia de calor e após eu ter mencionado “Boa tarde, estamos a organizar um trabalho sobre os Sem-Abrigo”, responder-me: eu sou um…

Como me apeteceu largar todos os papeis que tinha em mãos e abraça-la e pedir-lhe, ao mesmo tempo, mil desculpas. Mas isso era pouco…

Foi dos momentos mais arrepiantes que tive e constrangedores de sempre. Foi num factor de segundos mas olhámo-nos todas umas às outras e decidimos, mesmo que mentalmente, seguir em frente com o questionário (pois é uma pessoa igual a todas) mas de uma forma indirecta.

Nesse dia, essa pessoa, desconhecida de nome, conhecida apenas de idade, passou-me uma lição enorme à cerca da vida: Um é tanto ou mais que o outro pelo seu interior, desvalorizando qualquer roupa, quaisquer sapatos, qualquer um apetrecho, qualquer tipo de etnia e raça. A diferença das pessoas está no seu percurso pela vida, nas memórias, nos erros cometidos, nas vitórias alcançadas, nos sonhos. Olhando só e apenas para a “embalagem” como podemos julgar uma pessoa se nem sequer sabemos qual o conteúdo?

As coincidências não são vãs e a vida é feita delas.



Ana Rodrigues

15 de março de 2010

Todos temos um pouco de Sem-Abrigo

Há um pico na vida de cada um que nos leva a pensar que nada do que fazemos faz sentido, que nada do que se diz faz sentido e ,até mesmo, que nada do que vemos faz sentido. É tudo traduzido num mar de ondas gigantes que nos engolem constantemente sem termos corda para nos salvar. É como se entrássemos num poço sem fundo, como se nos atirássemos a um precipício, é, talvez, como se estrangulássemos a nós próprios com crueldade mas ao mesmo tempo sofrendo... É um ar que respiramos sem querer, mas mesmo sem querer o temos de respirar...
Tudo nos sufoca, estamos rodeados de gente e estamos sozinhos. A vida é bonita, mas é cruel. Aliás, também ninguém disse que era um mar de rosas, não sei porque razão haveremos de pensar que tudo é fácil. É tão fácil ver os outros a sorrirem, é tão fácil ver os outros a olharem-se sem medo. Mas como fazer isso sem impasse nenhum?
Quero tudo e nada, quero o calor de uma cama, quero o olhar de alguém sem ser de desprezo, quero as coisas mais simples do mundo que me são negadas. Mas não suporto, não suporto a ideia de ter coisas desnecessárias quando o que eu quero mesmo é tão simples. Não suporto a ideia de me darem tudo, mas esse tudo não chegar. E não chega pura e simplesmente porque é um tudo carregado de coisas materiais. Quero calor, quero afecto, quero alguém para conversar e saber que esse alguém não tem qualquer interesse que não seja um olhar amigo. Sinto o coração tão cansado, sinto-o a bater tão de vagar que quase se descompassa...
De uma maneira ou de outra, umas vezes mais outras menos, todos nós somos sem-brigos imaginários. Há alturas na vida que mesmo na nossa casa nos sentimos estranhos e incomodados, como se não tivéssemos um abrigo onde nos esconder e gente que nos acolha. Então por que havemos de insistir em não ajudar aqueles que passam a margem do imaginário?
A vida uma montanha. É uma montanha e nós os escaladores. Escaladores que, por vezes, sobem ao cume e sem querer resvalam para o outro lado da montanha e não voltam a subir....





Ana Rodrigues

5 de fevereiro de 2010

Federação de Bancos Alimentares contra a fome

Neste momento estamos a explorar a informação obtida para ser publicado.
Tem consciência da quantidade de alimentos que chega à Federação de Bancos Alimentares?

Aquela experiência

Será que irão ser receptivos? Será que obteremos a informação que queremos? Será que nos irão ajudar? Será que ...? Imensas preocupações surgem-nos, quer a mim quer às minhas colegas de grupo.
Era já no dia seguinte que tínhamos o encontro com o director do Banco Alimentar e com uma organizadora/participante da EMIS. Sentia-me nervosa, porque, pela primeira vez, ía contactar com pessoas importantes.
Decidi, portanto, escrever perguntas-chave para que a conversa fluísse e pudessemos obter imensa informação. Levámos também um gravador, utilizado como um instrumento de auxílio.
No momento do verdadeiro frente-a-frente, penso que todas nós sentimos um nervosismo incomodativo, que por nossa força maior, foi desaparecendo.
Apresentações feitas o diálogo começa e é gravado. E mais uma pergunta, e mais uma informação, e mais uma risota, e mais uma pergunta, e mais um sorriso, e mais uma surpresa...
Quando estávamos a regressar a casa, exprimimos tudo o que sentimos. E, na verdade, todas queríamos voltar a repetir a experiência e ficámos, imediatamente ansiosas, para apanhar o comboio para uma outra visita realizar.

Ana Patrícia

29 de janeiro de 2010

Um dia diferente...

Décimo segundo dia do primeiro mês do ano. Frio. Quatro personagens que outrora vieram sentadas nuns bancos de tom laranja incandescentes de um comboio, chegaram à estação de destino - Coimbra B.
Após umas dóceis gargalhadas que tentavam fazer com que o tempo passasse mais depressa, o meio de transporte foi deixado ali, estático e adormecido.
Uma brisazinha, ligeiramente atrevida, insistia em penetrar por entre as mangas do casaco, enquanto a ânsia de chegar à instituição se apoderava de mim. As pernas tremiam, os dentes teimavam em bater. O frio continuava. Ainda tínhamos uma longa caminhada até chegarmos à instituição do dia - Federação Portuguesa de Bancos Alimentares.
Meio azulada e afastada da baixa coimbrense, localizava-se a associação que tanto procuravamos.
Os nervos decidiram recordar-se de mim e aparecerem sem sequer terem sido convidados.
Entrámos. Excelentemente recebidos pelo presidente da Federação, o medo do erro persistia. Iniciada a conversa, após uma apresentação bastante simpática e acolhedora, os pontos de interrogação começam a surgir. Contudo, o grande medo do erro permanecia nos poros que tentavam respirar. Não afastando o orgão que chefia a audição da conversa, procurei o sentido de existirem tantas pessoas com fome, com frio e sem apoio. Os porquês iam aumentando.
Por momentos, uma raiva absoluta consumiu-me.
A visita às instalações continuava e a simpatia permanecia na fala de cada um. Apontados os pontos fulcrais numa folha velha, isto é, num rascunho cuja profissão é salvar o mundo, noto que está tudo prestes a acabar. Mas não para sempre, pois o grupo promete voltar com a mesma ou mais dedicação.
Repetindo, com uma despedida mas não para sempre, os pés retiraram-se com delicadeza, exigindo aos lábios o esboço de um sorriso solidário.

Patrícia Oliveira

24 de novembro de 2009

Como surgiu a ideia de criar este blogue?

Todos sabemos que neste mundo vasto da internet existem imensos blogues que também abordam este tema - a mendicidade. Mas, talvez, a criação deles tenha um objectivo diferente do nosso. Estamos a elaborar este blogue no âmbito da disciplina de Área de Projecto, não com o intuito de mostrarmos trabalhos aos professores, mas sim alertar e sensibilizar as pessoas para esta temática.

Hoje em dia, estamos a passar por uma crise muito profunda e, como consequência, o número de mendigos e sem-abrigos deverão aumentar. Mas alguém pensa nisso? Os responsáveis da governação do nosso país têm feito alguma coisa para colmatar este problema?
Antes de mais gostaríamos e achamos importante distinguir o significado de mendigos e sem-abrigos, pois são realidades diferentes. Os mendigos são pessoas que, normalmente, andam na rua a pedir e podem ter um emprego e um sítio para dormir. Um sem-abrigo é um indivíduo que não tem local para habitar, o que não significa que ele ande na rua a pedir esmola.
Gostaríamos que todos os interessados neste tema participassem e dessem a vossa opinião ou até testemunhos neste blogue.
Ainda me lembro de quando era criança e passeava com a minha mãe na rua mais movimentada da cidade. Via imensas pessoas sentadas nos passeios com roupas deterioradas, com um rosto e um corpo sem vida. Notei sempre que, apesar das diferenças que existiam em cada um, havia uma característica comum que, por um lado, assustava-me, mas, por outro, fazia sentir pena: tinham a barba muito grande.
De mão dada com a minha mão, de vez em quando, uma lágrima soltava-me. Revoltava-me por saber que eles não tinham carinho, comida, casa... revoltava-me por ver as pessoas ao olhar com desprezo para eles... revoltava-me até por a minha mãe nem sequer dar uma moedinha a eles.
Era capaz parar uns segundos em frente destes seres "sem vida" e tentar olhar para o interior deles! Admirava imenso os adultos que deixavam uma moeda no cesto e eu sofria por não fazer o mesmo. Ainda era apenas uma criança.
É extraordinária a sensibilidade das crianças! E quando se tornam adultas tendem a ser seres que não se importam pelos outros.
Nós não queremos mudar as mentalidades das pessoas, nós não queremos que ao lerem estes textos comecem a dar dinheiro a estes míseros seres por obrigação. Nós sabemos que não vamos conseguir igualar a nossa sociedade, nem é o nosso objectivo. Nós queremos sentir o que eles sentem e saber a sensação de ser humilhado todos os dias.
É uma questão para reflectir! Quiçá, de vez em quando, devamos ser crianças!
Ana Patrícia

30 de outubro de 2009

Porquê contagem decrescente?



Serias capaz de acordar a meio da noite e não ter uma manta para te tapar os pés gelados? A tua vida começou com o maior conforto, a tua mãe aqueceu-te logo que te agarrou em braços. O teu corpo foi-se desenvolvendo e crescendo. E a vida? A vida foi-se atropelando por problemas de falta de dinheiro no telemóvel, falta da tua caneta preferida... Mas quanto tempo e quantas mãos são precisas para te abrirem os olhos e veres que há gente sem pão para o pequeno-almoço ou umas míseras meias para não trespassar o frio. Gelam-lhe as mãos, remoem-lhes o estômago de fome e choram-lhes o coração de medo e angústia. A vida decresceu: 3, 2, 1, 0, -1, -2 ...
A ti pesa-te a dor de não poderes ter a casa que queres, mas há quem nem uma casa de banho tenha para lavar a cara das lágrimas.
Quantos dias durarias tu numa rua nua e sombria? Rodiado de gente e sozinho. Quantas horas aguentarias sem uns sapatos nos pés? Quantas noites sobreviverias sem o calor de uma cama ou o beijo de boa noite de família?
Estás de olhos abertos e não vês. Não vês que é uma vida em decrescente... É uma vida contra o tempo. É a vida de gente por quem passas várias vezes ao dia e ignoras a sua presença, mas que poderias ser tu.

27 de outubro de 2009

Tânia Patrícia Phie Tita


Ganhámos uma paixão por descobrir, cada vez mais, como é a vida de pessoas com menos possíbilidades, com menos oportunidades, com menos afecto e carinho - rotulados de "sem-abrigos" e "mendigos".

Percorremos ruas, instituições, entraremos na pele de cada uma dessas pessoas, sentindo em nós próprias as dificuldades que a vida os atropela. Muitas dessas que se encontram na rua, enfrentando perigos, outrora tiveram família, emprego, conforto, sentimentos... E, hoje, devido a um simples derrube ocorrido em momentos banais, não passam de "carcaças" deambuladoras e gélidas.
Valerá a pena voltar costas a quem tem tanto direito à vida como qualquer um de nós? Será justo?


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